No começo, eu e Camilo Frões nos juntamos para começar a pensar no roteiro do jogo. Tenho uma visão clara a respeito do jogo que quero criar e priorizo duas questões muito importantes: narrativa e gameplay, no mesmo nível, na mesma estante, no mesmo patamar. Para mim, não existe uma sem a outra. Esses seis meses foram um longo processo entre arte e parte técnica, porque não adianta pensar em uma ideia mirabolante se depois não temos uma mecânica para desenvolvê-la.

Os primeiros passos, após a criação da narrativa do primeiro capítulo do jogo, foram focar na mecânica principal e na criação do primeiro level design. Enquanto Jalison Falbet tentava elaborar a melhor forma de fazer o projetor funcionar (demoramos um mês e meio até encontrarmos uma solução), eu analisava a narrativa de um ponto de vista espacial, decidindo onde cada evento iria acontecer e como isso poderia se adaptar a um ambiente real.

Brasil 99 explora o mundo da arte brasileira, principalmente o cinema, e, sendo um projeto criado aqui na Bahia, quis colocar como primeiro cenário a própria Gamboa, que fica situada em Salvador. Portanto, comecei a pesquisar mapeamento fotográfico, Gaussian Splatting, fotogrametria e outras ferramentas, todas me ajudaram a avaliar melhor o ambiente e ver com mais clareza o que poderíamos fazer.

Comecei a trabalhar com processos procedurais para criar paredes, muros e casas sem precisar colocá-los um a um. Otimizar o processo sempre foi minha prioridade desde o começo. Jalison encontrou os primeiros problemas com a quantidade de regras de movimento e projeção que eu estava pedindo. Meu objetivo era criar uma física bastante realista para o personagem, explorar bastante o controller adicionando vibrações e tornando a experiência o mais sensorial possível. Não trabalhamos com “hedge,” ou seja, não temos pontos específicos onde o player se apoia. Deixamos bastante livre, para que os pulos sejam realizados de forma mais natural, juntamente com a inserção do projetor e dos próximos inimigos.

Enquanto isso, Caique Pituba criava as primeiras artes. Trabalhamos para que Luce e o ambiente ao redor dela refletissem a narrativa, a história que estávamos contando. Pensamos em dois níveis: o nível real, do Brasil 99, um Brasil distópico e obscuro, contrapondo-se ao Brasil do passado, onde as cores vibram e o sol ainda brilha no céu.

Comecei a modelar casas e personagens. Ainda estamos em processo de realização das modelagens principais, priorizando por enquanto a narrativa e a gameplay. Depois de seis longos meses, estamos próximos de entrar na segunda fase, com nosso personagem quase 100% concluído e o projetor funcionando. O próximo passo será colocar os inimigos, as poças temporais que podem ser vistas na galeria de artes dos ambientes, juntamente a todo o inventario do personagem.

Ainda temos muito trabalho pela frente, mas temos certeza de que o que fizemos até aqui já é bom o suficiente para ser mostrado a vocês.

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Brasil 99 é uma homenagem à arte e à cultura, a tudo que se expressa da forma mais abstrata e absurda, ao caos e à liberdade de ser quem você é.